A BIOPSIA da PELE na SÍNDROME HIPERMOBILE EHLERS-DANLOS
Dra. Trinh HERMANNS-LÊ
Olivier HOUGRAND
Prof. Daniel MANICOURT
Dr. Stephane DAENS
A Síndrome de Ehlers-Danlos (SED) é um grupo heterogéneo de distúrbios genéticos do tecido conjuntivo caracterizado por hiperlaxidade articular, hiperextensibilidade da pele e fragilidade dos tecidos. A nova classificação de 2017 de Nova Iorque reconhece 13 tipos e define novos critérios clínicos para o tipo hipermóvel (SEDh) que constitui a maior parte da síndrome (80 a 90% dos casos). Na história natural da SEDh, são descritas 3 fases: a fase de hipermobilidade (pontuação de Beighton > 6/9 ou, se a pontuação for menor, é considerada a hiperlaxidade de outras articulações não testadas por Beighton) nos primeiros anos de vida, a fase da dor (que explica o diagnóstico errado da fibromialgia) que se inicia entre a 2ª e 4ª década de vida e a fase de rigidez observada nos idosos e em alguns adultos raros. A partir dos 50 anos de idade, a pontuação Beighton pode diminuir para 3/9 na SEDh e para estabelecer a existência de hiperlaxidade articular, é utilizado o questionário Grahame de 5 perguntas. O uso da Escala de Diagnóstico Somatosensorial 62 (Harmonet) é também uma ajuda para o diagnóstico.
A biópsia da pele foi concebida para procurar anomalias nos componentes do tecido conjuntivo, incluindo colagénio na derme. Como o colágeno está presente nos tendões e na pele, também são observadas anormalidades de colágeno nos tendões. Por esta razão, a biopsia cutânea é de interesse na Síndrome de Ehlers-Danlos, especialmente porque é fácil de realizar e não é muito traumática para os pacientes.
A biópsia da pele pode ser realizada para 2 fins:
1/ para uma cultura de fibroblastos em busca de mutações genéticas. Neste caso, será negativo na síndrome hipermóvel Ehlers-Danlos (HDS), cujas mutações genéticas são actualmente desconhecidas. Portanto, a biópsia para pesquisa genética na SEDh não é contributiva.
2/ para um estudo morfológico do tecido conjuntivo. Há 3 exames que são feitos neste caso:
a/ histologia (microscopia de luz) mostra por vezes anomalias, como a elastopatia, o que permite suspeitar do diagnóstico da SED
b/ imunohistologia: o anticorpo anti-FXIIIa marca a presença de dendrócitos dérmicos do tipo I (DD-1). A diminuição do número de DD-1s é a favor de uma SED, porque os DD-1s diminuem em número assim que a tensão da pele se desvia de uma certa norma.
c/ o estudo ultra-estrutural (microscopia eletrônica de transmissão) é o exame mais importante. Permite a visualização de anormalidades de colágeno pela presença de variabilidade no diâmetro das fibrilas, irregularidade dos espaços inter-fibrilares e fibrilas em forma de flor (foto 1). Como o número de fibrilhas em forma de flor pode ser mínimo, é necessário um exame cuidadoso das secções. Outras modificações também podem ser observadas: as das fibras elásticas, depósitos de material granulo-filamentoso...
Foto 1: Alterações de colágeno na SEDh (fibrilas em forma de flor (>), diâmetro variável das fibrilas e irregularidade dos espaços inter-fibrilares)
O diagnóstico das SEDs, como em todas as patologias, deve ser sempre baseado na clínica. Com exceção da SED dermatosparaxial, as modificações ultraestruturais cutâneas têm alta sensibilidade, mas baixa especificidade na SED; entretanto, todas essas modificações são reprodutíveis em cada um dos diferentes tipos de SED e permitem que o diagnóstico seja confirmado e classificado. Portanto, é importante que as seções sejam lidas por um examinador experiente que esteja familiarizado com todas as mudanças induzidas pelos diferentes tipos de SEDs.
As alterações morfológicas descritas na SEDh também podem ser observadas em alguns familiares "saudáveis" de um paciente com SEDh. No entanto, quando estes indivíduos são devidamente examinados, apresentam uma hiperlaxidade articular assintomática ou associada a certos sinais definidos pelos critérios de Nova Iorque para SEDh ou uma pontuação Beighton inferior a 5 ou 6/9 e, portanto, são classificados como Desordem do Espectro de Hipermobilidade (DHS). No entanto, existe uma continuidade entre a hiperlaxidade assintomática, HSD e SEDh. Alguns pacientes podem desenvolver outros sintomas ao longo das suas vidas e o seu diagnóstico pode mudar de HSD para SEDh.
Na SEDh, onde as mutações genéticas não são conhecidas, a biópsia da pele para um estudo morfológico é uma ajuda valiosa para o diagnóstico, pois é a única forma de confirmar o diagnóstico, pois os outros testes (Rx, RM...) são todos negativos até que as articulações sejam destruídas ou surjam complicações neurológicas. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo os dispositivos preventivos e terapêuticos poderão ser postos em prática, preservando assim a qualidade de vida do paciente e limitando também os custos médicos.
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BIOPSIA CUTANOSA em HYPERMOBILE EHLERS_DANLOS SYNDROME